Desde a colonização, a Amazônia é receptáculo de projetos dos “de fora”, que pensam tal região, de particularidades naturais e humanas, meramente como reserva de valor, como fundos territoriais (ainda) não completamente explorados pelo capital. Em consequência dos consecutivos regimes de expropriação que vêm sendo praticados ao longo de séculos na Amazônia, ela é também a região geográfica que apresenta os maiores índices de violência no campo no Brasil, resultado da sua qualificação – simbólica e material – como “a fronteira” interna por excelência.
As vítimas destes regimes violentos são, muitas vezes, sujeitos que fazem parte de coletivos de movimentos sociais de luta pela terra, atingidos/as por barragens, indígenas, assentados/as, quilombolas, pescadores/as artesanais, dentre outros segmentos sociais diversos.
Neste sentido, o livro pretende discutir não somente a historicidade de mitos e práticas direcionadas à produção da Amazônia como fronteira, mas também visibilizar a violência política que decorre de tais mitos e práticas, tendo como enfoque aquela que é direcionada a mulheres.
Tratamos particularmente das histórias pessoais de três vítimas fatais do “desenvolvimento”, em decorrência de suas lutas territoriais na Amazônia: Dilma Ferreira Silva, Nilce de Souza Magalhães e Jane Júlia de Oliveira. Como buscamos qualificar no livro, a morte na fronteira amazônica caracteriza-se como morte política e, especificamente, como uma tentativa de eliminação de formas políticas protagonizadas por mulheres. Tais políticas estão na ordem da reprodução da vida e do comum, e são destituídas por mentalidades de fronteira evidentemente masculinas e proprietárias, que representam a antítese do que sugerem tais lutas e tais mulheres. Neste sentido, as eliminações na fronteira amazônica nos permitem repensar a noção de fronteira enquanto uma condição humana, e não apenas como uma condição espacial da expropriação.
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Sumário
Abrindo Fronteiras e Fechando Covas ou Sobre Como Começar pelos Finais
Capítulo 1 - A Fronteira em Perspectiva: O Imaginário de um “Futuro do Pretérito Imperfeito”
Capítulo 2 –“Nas Portas de um Futuro que Nega seus Favores”: A Expropriação como Traço Marcante da Ocupação da Amazônia
Capítulo 3 – Ocupar ou Criar Vazios? O Amanhã Não Chegou Para Elas
Capítulo 4 - “Ela tinha um Jeito de Fazer Você Acreditar que o Impossível Poderia Acontecer, e que Sua Causa Era Certa”: Destituição Política e Violência Contra Três Mulheres Amazônidas
Capítulo 5 – Debatendo a Fronteira Pelo Prisma das Lutas Políticas de Mulheres na Amazônia
Conclusão: “Assim como tu não terminas na tua morte. E é por isso que te escrevo...”
Referências
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Nascida no Rio de Janeiro (RJ), Laura dos Santos Rougemont atualmente vive em Niterói (RJ). É geógrafa, pesquisadora e professora de geografia, com graduação pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), mestrado em Planejamento Urbano e Regional pelo IPPUR, na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), e doutorado pelo Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal Fluminense (UFF). Este livro é resultado de sua pesquisa de doutorado, realizada entre 2016 e 2021, na qual se debruçou sobre a discussão da violência política contra mulheres na fronteira amazônica.
A tese é fruto de uma trajetória de discussões já realizadas a respeito de conflitos socioambientais e agrários e impactos de grandes projetos de desenvolvimento, tendo como substrato teórico o pensamento crítico descolonial. Integra o NETAJ (Núcleo de Estudos sobre Território, Ações Coletivas e Justiça) e o ENCONTTRA (Coletivo de Estudos sobre Conflitos pelo Território e pela Terra).
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Lançamento: 2022
Tamanho: 16x23 cm
293 páginas
Obs: caso queira a versão impressa deste livro, somente disponível pelo email com preço de impressão: editora - arroba - lutasanticapital.com.br ou com a autora: lsrougemont - arroba - gmail.com