Esta nova edição do livro “Espaço e Movimentos Reivindicatórios: o caso de Nova Iguaçu” encontra justificativa nos seguintes fatos: na importância do tema, na medida em que constitui a primeira dissertação de mestrado sobre movimentos reivindicatórios no Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRJ; na atuação do movimento em extensa área da atual Baixada Fluminense, que abrigava considerável contingente populacional de trabalhadores; na adesão da Igreja Católica progressista sob o comando do Bispo Dom Adriano Hypólito, apoiador das lutas do povo; na conjuntura da ditadura militar.
Na medida em que os sindicatos dos trabalhadores se encontravam sob intervenção militar, os partidos políticos voltaram suas ações para o espaço de moradia dos trabalhadores. Nesse contexto, o Movimento Amigos de Bairro de Nova Iguaçu (MAB), objeto deste livro, se revelou um dos mais importantes da história do Rio de Janeiro.
Na condição de pesquisadora, além de participar de várias assembleias gerais, manifestações e pesquisas nos bairros, no momento em que o movimento se transformava, tive a oportunidade de participar dos debates emancipatórios de alguns municípios, como Belford Roxo e Mesquita.
Cabe esclarecer que, além da importância do tema, esta edição também se justifica porque a primeira surgiu em condições técnicas arcaicas, num tempo em que só havia máquina de escrever manual e os mapas eram feitos à mão.
Por último, e mais importante, fazer uma nova edição significa contribuir para manter viva a memória histórica da população da Baixada Fluminense, para que os filhos dessa terra, os Juniors e Tatianas das Catias, os Fabrícios e Fabianos das Claudias, as Gabrielas das Elaines, as Úrsulas das Nadirces, os filhos das Tatianas criados pelas Kellys e os Vitors Hugos das Mônicas, conheçam suas origens. Em suma, para que esses jovens saibam dos difíceis tempos que suas mães, mulheres lutadoras, que eu conheci na época do movimento e acompanhei durante algum tempo, viveram nessa época, nessa terra, juntamente com a maioria da população pobre da Baixada. Em suma, para que as gerações presentes e futuras saibam que seus ancestrais participaram de intensos momentos de reivindicação para legar a seus filhos um território com mais cidadania e direitos.
O resgate da história desse livro é importante para se tomar consciência de que existiu na Baixada Fluminense um forte movimento de resistência, o que não significa que seus problemas foram resolvidos, nem que governos corruptos deixaram de serem eleitos. O importante é que a população se organizou para discutir seus problemas e foi à luta. Que essa rica experiência proporcionada pelo MAB possa estimular novos movimentos reivindicatórios no atual cenário predominantemente conservador da Baixada Fluminense.
Júlia Adão Bernardes
Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFRJ
Coordenadora do Núcleo de Estudos Geoambientais (NUCLAMB-UFRJ)
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Sumário
AGRADECIMENTOS
PREFÁCIO
PREFÁCIO DA SEGUNDA EDIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – REFERENCIAL TEÓRICO
II – OS PROCESSOS DE PRODUÇÃO DO ESPAÇO E DO CONFLITO EM NOVA IGUAÇU
1. As Pré-Condições de Produção do Espaço?
2. Os Processos e Características da Produção do Espaço no Período 1945-1964
3. 1964: Agudização do Processo de Periferização e Movimento Popular Silenciado
III – AS BASES DA MOBILIZAÇÃO POPULAR
1. O Território do Movimento
2. Os Contornos da Base Social
3. A diferenciação da Base Social no Interior no Bairro
IV – A MOBILIZAÇÃO POPULAR
1. Movimentos Amigos de Bairro de Nova Iguaçu (MAB): Emergência e Trajetória
1.1. MAB: nascimento e primeiros passos
1.2. A visibilidade pública e o 1o "Ciclo" de expansão do MAB
1.3. O apogeu da visibilidade pública do MAB e o 2o grande "ciclo" de expansão
1.4. O contexto mais recente do MAB
2. Movimento “Espontâneo” X Movimento “Organizado”
V - CONSIDERAÇÕES FINAIS
BIBLIOGRAFIA
ANEXO
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Ano de lançamento da 2a edição: 2024
172 páginas
Tamanho: 15x21 cm
ISBN: 978-65-85404-24-2