O presente livro é um legítimo esforço de escovação da história a contrapelo, como postulou Walter Benjamin. Neste caso, da história da psicologia brasileira, mais especificamente do seu desenvolvimento durante a ditadura empresarial-militar, demonstrando que a institucionalização da psicologia em nosso país expressou (e foi), nas suas particularidades, a institucionalização da ditadura, ao passo que, dialeticamente, conformou tal regime autocrático. De maneira brilhante, o autor, Juberto Antônio Massud de Souza, realiza duas das tarefas que Ignacio Martín-Baró, psicólogo e revolucionário salvadorenho, apregoou como urgentes para que a psicologia liberte-se de si mesma e, nisso, contribua para a libertação da classe trabalhadora: o resgate da memória histórica e a desnaturalização do senso comum. Não contente em realizar tarefas de grande dificuldade, e com um fôlego admirável, o autor demonstra toda a sua apropriação do método materialista histórico-dialética, em uma análise totalizante capaz de explicitar as contradições deste processo, a ponto de se colocar na prateleira das obras incontornáveis sobre a história da psicologia brasileira – por mais que ele humildemente negue a si tais louros, que são mais do que devidos. Quem quiser compreender não só o que a psicologia brasileira tem sido e, dialeticamente, não tem sido, mas, também, os porquês de ela ter sido muita coisa e não ter sido tantas outras, tem na presente obra uma fundamental parada, para se nutrir dos estímulos necessários à continuidade da caminhada com a psicologia. Mas vou além: quem quiser se guiar pela construção de outra psicologia, não só compreendendo-a, mas transformando-a, quiçá superando-a, deve se municiar do esforço analítico de Juberto, tomando-o como arma da crítica a fomentar as críticas das armas que, juntas, nos auxiliarão na crítica e superação da psicologia e, também, na construção de outra sociabilidade em que tal produção de vida se dará, realmente, para cada qual segundo suas capacidades e de acordo com suas necessidades. - Pedro Henrique Antunes da Costa | Professor da Universidade de Brasília
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Sumário
Prefácio - Da necessidade de Trazer à Luz a Relação Entre a Categoria dos Psicólogos e a Ditadura | Ana Maria Jacó-Vilela
Apresentação| Oswaldo H. Yamamoto
Pós-Escrito e um Balanço Parcial de “Os Ásperos Tempos da Psicologia”: autocrítica do autor e algumas consequências da tese
Introdução
1. Tendência Histórica de Desenvolvimento da Psicologia no Brasil: o processo de institucionalização durante o governo militarizado
1.1 - O sentido histórico da institucionalização da psicologia no Brasil durante as décadas de 1960 e 1970: a regulamentação, o amoldamento, a militarização e a
depuração da profissão
1.2 - A reforma universitária de 1968: momento principal para o impulso da expansão da psicologia no Brasil
1.3 – A nova etapa de institucionalização da psicologia brasileira: a articulação com os órgãos de informação para as depurações institucionais
2. Na Contramão da Nova Etapa de Institucionalização da Psicologia no Brasil: o deslocamento da cidade para o campo e a guerra popular prolongada
2.1 – Ação Popular e a integração na produção: da transformação clandestina de uma psicóloga em camponesa aos estudantes no setor de propaganda
2.2 – Uma psicóloga na Ala Vermelha do PCdoB
2.3 – O PCdoB e a Guerra Popular como o Caminho da Luta Armada no Brasil: um estudante de psicologia na Guerrilha do Araguaia
3. A Guerrilha Urbana e os Diferentes Agrupamentos: depurações e as eliminações físicas no processo de institucionalização da Psicologia
3.1 – A depuração dentro do Instituto de Psicologia da UFRJ e o MR-8: os setores estudantis, a captura do embaixador norte-americano e as eliminações físicas
3.2 – De professora da USP à farsa de seu suicídio: Iara Iavelberg e o acompanhamento psicológico na luta armada
3.3 - Aurora Maria Nascimento Furtado: a proibição da Academia Paulista de Psicologia por seu compromisso de “levar a luta até o fim”
3.4 – Entre Jean Piaget, Cabo Anselmo e Sérgio Paranhos Fleury: Pauline Reichstul na VPR
4. A Guerrilha Urbana e os Diferentes Agrupamentos: a continuidade na profissão apesar das depurações na nova etapa de institucionalização da Psicologia
4.1 – A prisão de um setor da POLOP e a formação do POC: uma psicóloga encarcerada com atendimentos de torturadas dentro de sua própria cela
4.2 – Da interrupção da psicologia e a proximidade com o PCBR à reconciliação com a profissão no exílio: “faço que nem Neruda, ‘Confesso que Vivi’”
4.3 – A ALN na psicologia da USP de Ribeirão Preto: do convite Marighella à criação do curso de psicologia na UniSantos
Comentários Para um Reinício
Referências
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Ano de lançamento: 2024
448 páginas
Tamanho: 16x23 cm
ISBN: 978-65-85404-58-7