Revolução na nossa terra: Amílcar Cabral e o marxismo

Luciana Dias

Preço normal R$ 49,50

Este livro que o leitor tem nas mãos versa sobre Amílcar Cabral, um dos mais destacados líderes políticos da luta para libertar a África das garras do colonialismo europeu. Nascido na então Guiné Portuguesa (hoje República da Guiné-Bissau), filho de pais provenientes do arquipélago de Cabo Verde, uma outra colônia na época, Amílcar Cabral começou por ser um brilhante engenheiro agrônomo, formado em Lisboa, na então elitizada universidade portuguesa. Converteu-se depois no fundador e dirigente do Partido Africano para a Independência da Guiné e Cabo Verde (PAIGC). O que o distinguiu de muitos outros companheiros de causa e de geração foi o caráter multifacetado da sua vida e obra. Foram reconhecidamente muitos os seus interesses e campos de intervenção, desde a condução bem-sucedida de uma guerra de guerrilha à diplomacia, passando pelo debate de ideias e pela busca incessante de um quadro teórico-doutrinário que pudesse explicar o mundo e guiar a sua ação revolucionária.

Nesta obra, a autora, Luciana Dias, disserta sobre a identidade ideológica de Amílcar Cabral, algo que tem suscitado controvérsia. Ela explora a interessante perspectiva de “crítica genética”, o que quer dizer que a identidade ideológica de Amílcar Cabral é percepcionada pela autora mais como um processo do que como um dado, um processo que evolui interatuando com as diferentes situações de vida pelas quais o líder africano foi passando. Veremos que Luciana Dias segue Amílcar Cabral com persistência e sistematicidade. Segue-o jovem, ainda estudante em Lisboa, e garimpa as cartas que endereçou à Maria Helena, sua colega de curso, depois namorada e, por fim, esposa, para ver quais eram ao tempo as suas referências ideológicas.

Depois vasculha a monografia apresentada para a conclusão do curso de engenharia, em seguida, as entrevistas dadas em diversas capitais do mundo (Havana, Argel, Moscou, Roma, Nova Iorque, etc.), as declarações feitas nos diferentes fóruns e conferências (OUA, ONU, universidades, seminários de quadros do partido, etc.) e assim por diante. Em todo o percurso, Dias descortina em Amílcar Cabral uma tensão muito forte entre a coerência ideológica de um marxista e a necessidade de se adaptar o discurso às circunstâncias, na mira de alargar alianças. A autora aborda também o papel do Brasil, antes e depois de 1964, na história de libertação das colônias portuguesas. Interessante.

António Leão Correia e Silva - Professor da Universidade de Cabo Verde

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ÍNDICE

LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AGRADECIMENTOS

PREFÁCIO

Patricia Villen

INTRODUÇÃO

1 NOTAS BIBLIOGRÁFICAS

1.1 Pertinência de se estudar Amílcar Cabral dentro do tema do marxismo

1.2 Contexto da rejeição de rótulos

1.3 Diferenças de discurso segundo o público

1.4 Primeiros contatos com o marxismo

1.5 O caminho que o levou ao marxismo

2 RECONSTITUINDO INCERTEZAS: AMÍLCAR CABRAL ANTES DA CAMPANHA PELA INDEPENDÊNCIA (1948-1960)

2.1 Cabo-verdianidade, Mundo Português e atração pela África

2.2 Percurso organizativo: do CEA ao PAIGC

2.3 Interiorização do marxismo

2.4 Mudar o mundo, na África

2.5 Com os pés fincados na terra guineense

2.6 Uma ideia de África (Negra)

2.7 Formação do ideário antirracista

2.8 Um nacionalista africano dentro do aparelho colonial português

3 CONTEXTO INTERNACIONAL: A LUTA SE INSTALA NO MUNDO, O MUNDO SE INSTALA NA LUTA (1960-1973)

    3.1 O Ano da África e a Magna Carta da Descolonização (1960)

3.2 Angola arde (1961)

3.3 No meio do oceano havia uma base aérea: Açores, uma pedra no caminho anticolonialista de Kennedy (1961-1963)

3.4 Uma boa dose de lirismo e mistificações – o comportamento do Brasil (1961-1969)

3.5 Combinando com os russos (1960-1964)

3.6 Cimentação do apoio dos Estados Unidos à política colonial portuguesa (1964-1968)

3.7 Enquanto isso, no Palácio do Kremlin (1964-1969)

3.8 A arma da teoria, os engenhos da diplomacia (1966-1968)

3.9 O peso do racismo, o poder do dinheiro, a força da solidariedade internacional (1968-1972)

3.10 O ano da morte de Amílcar Cabral (1973)

4 CABRAL REVISITADO

4.1 Nas encruzilhadas da Guerra Fria

4.2 O conceito de imperialismo

4.3 Entre a originalidade e a adaptação, em busca de uma revolução africana

CONCLUSÃO

FONTES E BIBLIOGRAFIA

APÊNDICE

SOBRE A AUTORA

 

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Mais do que visitar as referências históricas já publicadas sobre a vida de Amílcar Cabral, Revolução na Nossa Terra as atualiza e as confronta a partir de um olhar crítico e intimista. Dos rastros dos tempos da escola ao reconhecimento internacional, Luciana Dias busca desvendar os diferentes momentos da vida de Cabral. Assim, por trás do ícone da luta pela libertação da Guiné-Bissau e Cabo Verde do jugo colonial português, descobrimos um homem romântico e poético, porém nada sentimentalista. Outro aspecto, entre os muitos relevantes, está na disposição que Dias tem de enfrentar as polêmicas que cercam a figura do líder africano. Por que Cabral era marxista? Que tipo de marxismo ele defendia? E sendo um marxista, quais razões o levaram a não se posicionar abertamente de nenhum dos lados em uma época de Guerra Fria? As respostas de Dias para estas e outras questões tornam a sua obra essencial a quem deseja mergulhar neste imenso oceano que é a história das revoluções africanas.  

Carla Santos, mestra em Literaturas de Língua Portuguesa e Africanas pela UFRJ, e doutoranda em Literatura Comparada pela USP.

 

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Ano de lançamento: 2022

Tamanho: 15x21cm

Número de páginas: 288

ISBN: 978-85-53104-50-5